A História do Zeca Garro (edição de Os Montanheiros e O Contador de Histórias, 2007), de Filipe Lopes e Carla Goulart Silva, mergulha-nos no universo prodigioso da fábula e, por isso mesmo, desperta em nós uma imediata adesão afectiva. Os seus autores, que se movimentam na área do ensino e da pedagogia, têm vindo a despertar, na alma e no espírito dos mais e dos menos jovens, não só a fruição das palavras e do saber, mas também, ou sobretudo, a desejável continuidade da sua apetência.
Este é um livro que sendo para crianças se destina também aos adultos. E isto porque o sentido mágico das palavras não conhece idades. Sempre assim foi desde as fábulas de Esopo (que viveu seis séculos antes de Cristo), passando por Fedro, La Fontaine, Daniel Deföe, Emílio Salgari, Júlio Verne, Robert Louis Stevenson, Lewis Carroll, entre muitos outros, até aos nossos dias.
A história do livro, dando conta das aventuras, atribulações, perigos e peripécias de um cagarro, em voo iniciático, revela o lado humano dos sentimentos, dos afectos, das emoções e estados de alma. É por isso que este é um livro infantil, mas não infantilizado. Ou seja, aqui se conta uma história que vai para além do universo respeitante às crianças.
A História do Zeca Garro possui claros propósitos ecológicos e óbvias preocupações ambientais, propósitos e preocupações que são dirigidas às crianças, aos adultos e, sobretudo, à criança que há dentro de cada adulto.
Saúde-se a beleza plástica e o fascínio encantatório das ilustrações de Bernardo Carvalho. Saúde-se a narrativa muito bela e envolvente de Filipe Lopes e Carla Goulart Silva, autores que revelam sentido estético, sensibilidade, imaginação criadora e criativa. E deixemo-nos enternecer com este livro que se lê com infinito prazer. Porque bem carecidos e carenciados de sonho andamos todos nós.
Voltar para Crónicas e Artigos |